João Francisco dos Santos (Glória do Goitá, 25 de fevereiro
de 1900 — Rio de Janeiro, 11 de abril de 1976), mais conhecido como Madame
Satã, foi uma drag queen brasileira, vista como personagem emblemática da vida
noturna e marginal carioca na primeira metade do século XX.
Biografia
Filho de Manoel Francisco dos Santos e Firmina Teresa da
Conceição, criado numa família de dezessete irmãos, diz-se que João Francisco
chegou a ser trocado, quando criança, por uma égua. Quando jovem foi para
Recife, onde viveu de pequenos serviços prestados. Posteriormente, mudou-se
para o Rio de Janeiro, indo morar no bairro da Lapa. Analfabeto, o melhor
emprego que conseguiu foi o de carregador de marmitas, embora houvesse o boato
de que também tenha sido cozinheiro. Na entrevista ao Pasquim ele fala sobre
receitas de preparação de peixes, mostrando conhecimento e experiência. Declara
que exerceu essas habilidades quando no presídio da Ilha Grande, preparando
refeições especiais para guardas e diretores. Considerado marginalizado,
acredita-se que o fato de ter sido negro, pobre e homossexual tenha
contribuído.
Era frequentador assíduo do bairro onde morava (conhecido
como reduto carioca da malandragem e boemia na década de 20), onde muitas vezes
trabalhou como segurança de casas noturnas e cuidava que as meretrizes não
fossem vítimas de estupro ou agressão.
Foi preso várias vezes, chegando a ficar confinado ao
presídio da Ilha Grande, agora em ruínas. Frequentemente, Madame Satã enfrentava
a polícia, sendo detido por desacato à autoridade diversas vezes. Considerado
exímio capoeirista, lutou por várias vezes contra mais de um policial,
geralmente em resposta a insultos que tivessem como alvo mendigos, prostitutas,
travestis e negros.
É considerado uma referência na cultura marginal urbana do
século XX.
Cumpriu pena de 16 anos por assassinato de um policial em
1928.
Dito dotado de uma índole irônica e extrovertida, ele era
encantado pelo carnaval carioca. Foi assim que, em 1942, ao desfilar no bloco
de rua Caçador de Veados, surgiu seu apelido. O transformista se apresentou com
a fantasia Madame Satã, inspirada em filme homônimo de Cecil B. DeMille.
Em 1971, concedeu uma polêmica entrevista ao jornal O
Pasquim.
Ele teve publicado em 1972 o livro "Memórias de Madame
Satã".
Em 1974 foi lançado o filme Rainha Diaba, que conta a vida
de um transformista marginal, interpretado por Milton Gonçalves, livremente
inspirado em Madame Satã.
Em abril de 1976 faleceu logo após a sua última saída da
prisão em sua casa (hoje um camping) vítima de um câncer de pulmão.
A ficha criminal ao longo de sua vida é vasta: No total
foram 27 anos e 8 meses de prisão, 13 agressões, 4 resistências à prisão, 2
furtos, 2 recepções de furtos, 1 ultraje público ao pudor, 1 porte de arma,
resistência à prisão entre outros.
Ele definia-se como "Filho de Iansã e Ogum, devoto de
Josephine Baker".
No ano de 2002 foi rodado no Brasil um filme sobre sua vida,
que leva também o nome de Madame Satã, premiado nacional e internacionalmente.
Nesse filme, João Francisco dos Santos foi interpretado pelo ator Lázaro Ramos.
Em 2015, Madame Satã foi homenageado no Carnaval pela GRES
Portela, que apresentou os 450 anos da Cidade do Rio de Janeiro.
Bibliografia
DESBOIS, Laurent: A Odisseia do cinema brasileiro, da
Atl*antida à Cidade de Deus, Companhia das Letras 2016
DURST, Rogério. Madame Satã: com o diabo no corpo. Reprint.
São Paulo: Brasiliense, 2005, 80pp., ill., b&w photos, 12mo, bds. (Encanto
Radical, n. 68). ISBN 85-11-03068-9 1st ed., 1985.
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